segunda-feira, 28 de maio de 2012

MANIFESTO PELA PAZ JUNTO AS TORCIDAS ORGANIZADAS DE GOIÂNIA


MANIFESTO PELA PAZ


Ante a violência nas Torcidas Organizadas de Futebol, a TOPPAZ apela ao bom senso e propõe reflexões e ações imediatas, verdadeiras e eficazes

                                                                            
            Prezado(a) amigo(a), você tem a oportunidade de ler neste momento um Manifesto publicado sob a responsabilidade do Projeto TOPPAZ (Torcida Organizada pela Paz).

            É um documento que deseja convidá-lo(la) a refletir e, consequentemente, a agir, com todas as suas forças, dentro da Lei e da Ordem, pela PAZ na cidade de Goiânia (GO).

            Passemos, pois, à exposição do assunto.



           1) Conceituando violência: o problema de Goiânia é mais amplo do que as brigas entre torcidas organizadas de futebol.



            Definimos violência como “o uso injusto da força – física, psíquica ou moral – no intuito de privar alguém de um bem a que tem direito (vida, saúde, liberdade...) ou em vista de impedir-lhe uma opção livre, coagindo-o a fazer até o contrário aos seus interesses”[1].

            Isso posto, olhamos para a realidade goiana e percebemos que a cidade traz, muito além da ação de maus torcedores de algumas organizadas, um histórico de violências múltiplas e desmedidas.

            Em recente pesquisa, ficou demonstrado que, infelizmente, Goiânia figura entre as cidades mais violentas do Brasil. Está em 13º lugar no ranking brasileiro de homicídios e em 40º no rol das cidades em que mais se mata no mundo[2].

            Ora, nesse contexto geral não é de se estranhar que ocorram mortes em algumas Torcidas Organizadas da cidade.

            A Torcida reflete o ambiente no qual está inserida, ainda que ela deva lutar para que esse ambiente possa (e deva) ser radicalmente mudado, haja vista que os líderes de organizadas exercem grande influência sob seus associados[3].



            2) Não existe apenas o torcedor violento. Há seres humanos problemáticos. Estes num grupo de pessoas – no caso uma torcida organizada – podem ampliar sua estupidez.



            A Toppaz defende a tese segundo a qual não existe um torcedor violento, apenas pelo fato de ser torcedor.

            Se o fato de torcer por um time deixasse, por si mesmo, alguém com propensões violentas, a consequência seria desastrosa: precisaríamos acabar com todos os times de futebol e demolir os estádios em geral.

            Ora, isso está longe de acontecer, pois o esporte há de ser entendido – ainda que se considere suas limitações e opiniões contrárias[4] – como algo prazeroso que leve ao lazer e à disciplina.

            Nesse ponto, lembramo-nos da importante constatação do filósofo Demerval Saviani ao escrever que “Levar na esportiva” significa não cair em provocações, reagir com bom humor. Tem “espírito esportivo” quem sabe ganhar ou perder com classe, com elegância”[5].

            Portanto, a estupidez vista dentro e fora dos estádios por parte de alguns torcedores não decorre, primariamente, do ato de torcer, mas de problemas de várias ordens (educacional, ético, psíquico) relacionados ao sujeito torcedor[6].

            Esse indivíduo caracterizado como violento, independentemente de ser torcedor ou não, reflete na sociedade o que ele é no mais profundo do seu ser e, por isso, faz essa mesma sociedade – num efeito bumerangue ou de vai e volta – se refletir violenta.

            Explicamos o que atrás foi dito, a partir das constatações vindas de dois promotores de Justiça, portanto, homens que estão habituados a estudar e a enfrentar a questão da violência muito de perto.



            2.1 Paulo Sérgio de Castilho afirma: “O que se percebe, nos eventos futebolísticos, é que a violência é um fenômeno humano que ocorre independentemente da camada social a que o indivíduo pertença”[7].



            2.2 Ronaldo B. Pinto assevera em relação à violência no futebol que “não há nada que difira, basicamente, da violência que se vê no trânsito, na escola, no emprego, nas relações familiares, etc. Aquele que agride a esposa em casa, aproveita os jogos de futebol para agredir também seu oponente. Quem transgride a lei de trânsito, transpondo o sinal vermelho que lhe é desfavorável, sente-se estimulado a atingir os mais elementar direito do seu semelhante. Tudo é fruto da enorme escalada da violência que se verifica em nosso país, cujas causas são as mais diversas e que, por conseqüência, atinge também o futebol (embora, não raramente, sejam vistas tais práticas também no basquete e no futsal)”.

            E continua: “Uma sociedade violenta irradia seus reflexos para todos os campos da atividade humana, sendo inviável se imaginar que o esporte possa se ver livre desse fenômeno”[8].



            Não há, pois, como não dizer que essa violência é um produto (efeito). Logo, tem uma fábrica que a produz (causa). Essa causa é o ser humano problemático por carências diversas que vão desde a falta de educação básica até a sanidade mental afetada[9]. Ele precisa, portanto, de apoio.

            Feita essa explanação, resta-nos considerar uma solução plausível e eficaz para o problema atrás delineado.





            3) Só com punições e medidas politiqueiras nada se resolverá.



            Antes de tratarmos da centralidade do ser humano na resolução dos problemas de Goiânia, façamos uma importante observação esclarecedora.

            Afirmamos que “só com punições” não serão resolvidos os problemas da violência, mas não queremos com isso dizer que a punição seja algo secundário. Ela tem sua importância no processo disciplinador, segundo assegura, entre outros estudiosos, o psiquiatra Dr. Joaquim Z. Motta[10].

            Igualmente boas medidas políticas muito ajudam, mas quando se tornam politiqueiras, além de não ajudarem, podem atrapalhar, pois, em vez de se tentar soluções para o problema da violência, beneficia-se desse problema para fins próprios.

            Paulo Vinícius Coelho, em seu artigo “Chega de Demagogia”, afirma que, em São Paulo, parte daqueles que se dizem grandes adversários da violência nas torcidas ou combatentes de torcidas organizadas, na verdade, visam a cargos públicos eletivos[11].

            Ora, tudo o que é movido por segundas intenções, ainda que inconscientemente, não pode levar a bom termo.



            4) A raiz do problema está no ser humano



            Se o cerne da questão é o ser humano problemático, ele é que precisa ser trabalhado por quem está perto dele ou com ele convive.

            Daí, delimitarmos o problema, neste Manifesto, focalizando-o para as torcidas organizadas, maiores causadoras de confusões nas praças esportivas ou seus arredores, segundo os dados que temos.

            Perguntamos então: Elas querem ou não viver em PAZ?

            Se responderem SIM, que apliquem os meios para isso. Se disserem que NÃO, devem ser extintas oficialmente como grupos paramilitares condenados pela Constituição Federal artigo 5º, XVII.

            Óbvio é que, por encadeamento de raciocínio, alguém perguntará: A extinção das torcidas freará a violência?

            Por si só, nunca freará, mas por duas razões ajudará a sociedade:

            a) elimina uma das fontes de ódio que as organizadas criam umas para com as outras, pois de acordo com o promotor de Justiça Paulo Castilho é nas organizadas estão os maiores focos de violência entre torcedores[12].

            b) dá perda de dinheiro a quem vive dela, pois deixam de receber as mensalidades, de vender camisetas, bonés, chaveiros, etc. Isso faz quem só vive de torcida ou nela faz seu pé de meia ter que buscar outro campo de renda.

            Ante esse emaranhado de coisas, devemos apontar outras vias.



            5) Soluções simples, sérias e eficazes



            Acordos de PAZ: é extremamente necessário que as torcidas organizadas assinem um Acordo de Paz, divulguem esse acordo para todos os associados e expulsem quem o descumprir.



            Formas de anunciar os jogos: as formas com que os jogos serão anunciados devem constar o nome correto do rival e não apelidos que o menospreze[13].

            O associado tem que aprender que o OUTRO também é um ser humano. Esse OUTRO apenas torce por um clube diferente e, consequentemente, tem outra torcida.



            Fim das letras violentas: as letras violentas são causas de confusão, pois ajudam a deixar o já apaixonado ambiente futebolístico[14] ainda mais agitado. A torcida organizada existe para apoiar o seu time e não para ofender a torcida adversária[15].



            Devolução de material roubado: os “panos” tomados devem ser imediatamente devolvidos, pois essas tomadas de material são, na verdade, furtos e roubos que caracterizam crimes punidos pelos artigos 155 e 157, respectivamente, do Código Penal e, se cometido por mais de 3 pessoas, também se insere no artigo 288 do mesmo Código que é formação de quadrilha.



            Formação aos associados: o associado deve ser formado, por meio de reuniões, palestras, encontros para respeitar e não para odiar o rival. Quem forma alguém para o ódio é um criminoso e não um torcedor.



            Punição: aqueles que não se adequarem às normas propostas e assinadas, devem ser expulsos da agremiação e entregues às autoridades, conforme a gravidade do que cometeu[16].



            Delimitação de território, vigilância na internet e no dia a dia: faz-se importante respeitar territórios sabidamente frequentados por rivais, de modo a não se passar por lá, exceto em caso de extrema necessidade.



            Também as provocações ou marcação de confrontos via internet devem ser vigiadas, pois comprometem não são os brigões, mas, solidariamente, a torcida toda[17].

            Isso tudo é simples, sem custos financeiros e ajuda muito a manter a PAZ.



            6) Afinal que é a PAZ? Como consegui-la a contento?



            Antes do mais afaste-se a ideia errônea de que neste mundo teremos uma PAZ perpétua, pois os conflitos são inerentes ao convívio humano, embora devam ser combatidos com os meios racionais de que dispomos[18]. Daí a oportunidade deste Manifesto que você lê.

            No entanto, escreve Santo Agostinho de Hipona (†430), grande gênio da Idade Antiga, que “a paz é a tranquilidade da ordem”, ou seja, para haver paz é preciso existir ordem. Ora, só se pode chegar a essa ordem com um compromisso sério de paz alicerçado no amor a Deus e ao próximo, uma vez que estes encontram seu fundamento último nos mandamentos divinos sem os quais nenhum verdadeiro acordo subsiste.            Aliás, a respeito do que acabamos de afirmar diz, muito acertadamente, o grande pensador brasileiro Plínio Corrêa de Oliveira: “Tirai o amor de Deus da Terra e tereis tirado os Mandamentos; tirai os Mandamentos e a velha e surrada expressão latina ‘homo homini lupus’ tornar-se-á verdadeira: o homem transformar-se-á num lobo para o outro homem. Não adianta falar de ONU, nem de paz num mundo onde o homem é um lobo para o próximo[19]”.

            Isso posto, pode-se concluir que o caso de Goiânia é sério, mas, se as torcidas quiserem, terá solução. Melhorará sensivelmente se as organizadas se voltarem para um real acordo de paz – com medidas práticas e eficazes dele decorrente – à luz de Deus.       Fora d’Ele, por mais que se tente, como já se tem tentado, nenhuma saída terá efeito duradouro.



            7) Na prática: que fazer?



            Distribuir este manifesto; conscientizar quem está ao seu redor (professores, líderes religiosos... muito podem ajudar); alertar as autoridades por denúncia anônima; divulgar bons fatos referentes às organizadas; cobrar políticos, Federação Goiana de Futebol, presidentes de Clubes e de Torcidas.



            Conclusão



            Registramos aqui o nosso cordial agradecimento a você que se dedicou à leitura deste Manifesto da Toppaz e que irá nos ajudar a divulgá-lo.

            Pedimos a Deus que, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil nos abençoe – a nós e nossos trabalhos, a você e sua família, as torcidas de boa intenção e a população inteira de Goiânia.

            O caminho está delineado e as torcidas estão convidadas a dizer uma palavra em resposta a nossa pergunta: Querem a PAZ no modelo sério e verdadeiro que propomos ou preferem a GUERRA?

             – A RESPOSTA está com os responsáveis pelas torcidas organizadas e a sociedade brasileira, ordeira, pacífica e cordial, espera delas – PUBLICAMENTE – a resposta do SIM ou do NÃO.
                                                    

            Assinam: Felipe Bertasso Tobar e Vanderlei de Lima.



PROJETO TOPPAZ: Caixa Postal 103. CEP 13900-970. Amparo, SP.

E-mail: toppaz1@gmail.com /Fone 19 9223 8676.
  

PAZ



[1] Regis Jolivet Vocabulário de Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1975. Verbete Violência. Estevão Bettencourt. Curso de Doutrina Social da Igreja. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, p. 214.

[2]http://atarde.uol.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5798744&t=Salvador+e+a+22a+cidade+mais+violenta+do+mundo+aponta+estudo 

[3] Cf. Ronaldo Batista Pinto. Estatuto do torcedor comentado. São Paulo: RT, 2011, p. 107.

[4] Carlos A. Máximo Pimenta. Torcidas organizadas de futebol: violência e autoafirmação. Taubaté: Unitau, 1997, p. 71.

[5] Prefácio ao livro Futebol e Violência escrito por Heloísa H. Baldy dos Reis. Campinas: Armazém do Ipê/Fapesp, 2006, p. XVI.

[6] Vanderlei de Lima. Torcida Fúria Independente. São Paulo: Ixtlan, 2011, p. 67-68.

[7] Ações práticas e propostas legislativas de combate à violência no futebol: a criminalização é o caminho? São Paulo: F.P.F., 2010, p. 101.

[8] Estatuto do torcedor comentado. São Paulo: RT, 2011, p. 103.

[9] Ver O Estado de S. Paulo, 05/12/10, p. A 28, entrevista com Maria Helena Ferreira.

[10] Gol, guerra e gozo: como o prazer pode golear a violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 18.

[11] O Estado de S. Paulo 1º de abril de 2012, p. E-3.

[12] Ações práticas e propostas legislativas..., p. 90.

[13] Exemplos de anúncios corretos de jogos podem ser encontrados nos sites das Torcidas Mancha Azul, do CSA (Alagoas) e da Jovem Amor Maior, da Ponte Preta (São Paulo).

[14] Escreve Gustavo Lopes P. de Souza que o ambiente do futebol é potencialmente violento pelas paixões que desperta (Estatuto do Torcedor: a evolução dos direitos do consumidor do esporte (Lei 10.671/2003). Belo Horizonte: Alfstúdio, p. 84.

[15] Algumas, ao contrário, parecem existir apenas para ofender o rival, conforme destacou o deputado Zezé Perrela no Diário da Câmara dos Deputados em 27/09/01, p. 46.201, citado no livro Estatuto do Torcedor comentado, p. 104.

[16] Para isso tem sido útil o TAC, Termo de Ajustamento de Conduta assinados entre o Ministério Público e a Torcida Organizada com penalidades pesadas a esta última.

[17] Estatuto do Torcedor, artigos 39-B e 41-B.

[18] Ver Vanderlei de Lima. Torcida Fúria Independente. São Paulo: Ixtlan, 2011, p. 17-44.

[19] Catolicismo n. 731, novembro de 2011, p. 2.

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